domingo, 27 de abril de 2008

Ausência de você


Você chegou sem avisar, foi tomando seu espaço, marcando seu território, e ganhando minha atenção. Mas foi embora, pra quem sabe um dia voltar. A distância que nos separa não é física, pois sei que estás nesse exato momento, há algumas quadras daqui, e vem ver-me semanalmente. Mas cansei, cansei dessas visitas automáticas que tornaram-se as suas vindas, cansei de você e do seu amor mecânico. Porque ainda aguento tudo isso? Porque com você pude ser eu mesma, pude amar, pude ser amada, fazer feliz, ser eu mesma, realizar fantasias, e quer saber o que me resta? E o que faz-me aceitar essa situação? A memória. As lembranças que sua presença me resgata por causa do seu romantismo lascivo, que de tão doce chega a ser perturbante.
'Lembro daquela noite de outono que o conheci, um moreno de ar sedutor, vestido num fraque, um black tie irresistível. Não só percebi sua presença como, segui-o com meus olhos. E sei que no mesmo instante reparaste em mim também, a morena de vestido preto contrastando com a pele claríssima, em cima de uma sandália dourada de salto, como ele mesmo descreveu mais tarde. A troca de olhares manteve-se o evento todo, e no final, antes de começar a parte badalada, como se não quisesse perder-me, segurou meu braço com a violência de um desejo e convidou-me para uma dança. Justo a valsa final. Um passo pra lá, um pra cá. Seu rosto colado ao meu, seu pescoço alinhado ao meu queixo, embreagando-me de seu perfume envolvente, que atiçou-me os sentidos. Ao findar da música levou-me para a parte externa, com a desculpa de tomar um ar, mas tudo o que fez foi deixar-nos ofegantes. Sorriu timidamente e beijou-me com o desejo contido, com a magia das fantasias. A sensualidade brotava a cada toque, suas mãos percorriam o meu corpo, desvendando mistérios jamais descobertos. As minhas mãos trêmulas não sabiam o que fazer, então deslizava em seu corpo suavemente. Mãos que correm, percorrem, alisam, deslizam, despenteiam...
O cenário contribui, folhas caindo, a lua refletindo no lago, as estrelas brilhando, e nós, naquela imensidão de minuto, aproveitando cada milimetro de nossos corpos. O único céu que eu queria e conseguia tocar nesse instante era o céu da sua boca, num abraço apertado. A língua que lambe e desliza pescoço a fora arrepiava-nos e descobria sabores desconhecidos.
As mãos que antes passeavam suavemente, agora cravam as unhas que ferem de desejo, deixam marcas de um momento de êxtase, e prazer contido na pele.
Depois desse dia, nos víamos frequentemente, e era sempre uma explosão de paixão, e foi assim meses a fio, ele foi o meu melhor homem, o meu único homem, a quem me entreguei e vivi momentos intensos.'
Escrevo, porque assim eternizo nossos momentos únicos, deixo gravado pra sempre, pra você lembrar de como nos completávamos tanto no amor, quando no desejo, e volta a ser o meu fiel amor e amante, que me faz viver e de tanto me amar, me deixa com ressaca de você. Sei que nada disso faz sentido, mas algum dia nós fizemos?
Detesto sua ausência, essa que me impreguina de você.
PS: Desculpem-me o sumiço do blog, é falta de tempo e criatividade, esse conto eu publiquei há um tempo atrás no blog Polifonias Literarias. Beijos.