terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Para Sempre


Estava eu voltando da academia à noite por volta das dez horas da noite quando vejo, vindo em direção contrária à mim uma mãe, e quatro garotinhas de mais ou menos 6 anos. Saltitantes, de mãos dadas e a cada dois passos gritavam para quem quisesse ouvir o bordão “amigas pra sempre”, e o “pra sempre” era berrado ainda mais alto que o amigas.
Já dizia nosso saudoso Renato Russo, na música Por Enquanto, “Se lembra quando a gente, chegou um dia a acreditar, que tudo era pra sempre, sem saber que o pra sempre, sempre acaba”. Fiquei pensando, elas ainda estão na fase que ainda acreditam que as coisas são para sempre. Será que nunca ninguém contou para elas que nada é para sempre? Nem amizade, nem namoro, nem emprego, nem felicidade, que aliás, a dita cuja vai e volta, mas não é para sempre. ‘Pra sempre’ é uma grande utopia que colocam nas nossas cabeças, para que nós pensássemos que sempre teríamos o que é bom e nos traz satisfação.
Segundo o dicionário sempre significa ‘em todo o tempo; a todo momento; a toda hora, continuamente; eternamente’. As amizades até duram um bom tempo, mas não são eternas. O carinho, o afeto pelo amigo sim, esses sentimentos são a todo tempo e eternos, excedendo passado e futuro, mas chegam momentos em que as vidas bifurcam-se, as pessoas seguem caminhos diferentes, carreiras, cidades, opiniões etc. No caso delas basta a primeira mudança de colégio para que se afastem, ou se forem amigas porque os pais são amigos, basta uma brechinha para a distância entrar. Eu mudei de cidade duas vezes, deixei pessoas muito queridas em ambas, o amor será ‘pra sempre’, mas nossa convivência foi temporária, o tempo suficiente que nossas vidas precisaram se encontrar e tornar-se inesquecível.
Só que, o que era para ser ‘pra sempre’ sempre acaba, e é inevitável, mas não que seja ruim. Nas nossas vidas entram e saem pessoas a todo o momento. Pare e reflita, quantas pessoas maravilhosas, daquelas de passar horas sentada do meio fio conversando, foram saindo de fininho, sem querer da sua vida? Não que queríamos, afinal, sempre desejamos as coisas boas eternamente. Tenho amigos de infância, amigos de escola, de faculdade, de internet (sim, eu fui/sou uma adolescente na ascensão do mundo virtual), de festa, de bar, de tudo que é lugar, e de todos os tipos. E me dói saber que não é para sempre. É uma coisa rotativa, entram algumas e saem outras, porém Chaplin há muito tempo já nos confortava: “cada pessoa que passa em nossa vida, não passa sozinha, e não nos deixa só, porque deixa um pouco de si, e leva um pouco de nós...”
Tomara que a utopia do ‘pra sempre’ não continue nos machucando quando acordarmos e enxergarmos que tudo é temporário; que possamos continuar enxergando colorido, e acreditando nos acasos mesmo sabendo que conto de fadas não existem e que o ‘foram feliz para sempre’ não se aplica no mundo real. Alias, nessa evolução dos contos de fada, desde as histórias da Mamãe Gansa, da Dona Carochinha, do Charles Perraut, apesar de que, nos contos do Charles Perraut nem sempre existia ‘felizes para sempre’ porque ele escrevia com a intenção de divertir e de moralizar para que a sociedade não virasse bagunça. As histórias da Mamãe Gansa e da Dona Carochinha também tinham essa função, mas era na oralidade. O problema foi quando os bem-aventurados irmãos Grimm resolveram modificar os contos do Charles Perraut, deixando a tragédia e a comédia de lado,e incorporando o ‘foram felizes para sempre no final’ só para iludir as criancinhas. Eu sempre quis saber quem foi o inventor dos finais perfeitos, e agora sei, droga. Maldosos, isso não se faz.. É tudo tão lindo que chega doer quando a realidade bate à porta. E que essas garotas possam continuar sonhando, mesmo depois de saberem de tudo isso, mas é lógico que ninguém vai contar, já que o fascinante é aprender na prática.
Yara Regina

6 comentários:

lila disse...

Foi bom ler esse post hoje, (ah é e eu coloquei santos lá só por sua causa ^^), ontem mesmo eu falava com o luan, estávamos teclando logo após a virada, e eu disse pra ele que 2007 foi um ano ruim pra mim, mas hoje, acordei com a fica idéia de que 2008 vai ser bom, eu sempre fui uma otimista crônica disfarçada de pessimista, o problema é que eu era assim pra tudo, menos no que se referia a minha felicidade, e com essa idéia fixa, eu percebi que só a gente pode mudar as coisas, só a gente tem esse e outros poderes, disse pro luan que esse será o nosso ano, e se eu conseguir, farei feliz o ano de outras pessoas também, não pra sempre, mas enquanto durar, que seja intenso. vinícius de moraes gostaria da minha idéia. hahahaha beijos flor, adoro seus textos! Sinto muita saudade!!

Bianca Feijó disse...

Incrivel!Sempre venho aqui ler o que preciso...

Não acredito mais no "pra sempre",mas mesmo assim dói por ter sido temporario,mesmo sabendo que seria...

E,como diz Saramago:
" O que as vitórias têm de mau é que não são definitivas.O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas"

Lindo Yara!
Beijos!

Samantha Abreu disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Átila Siqueira. disse...

Oi, adorei seu texto, ele é ótimo.

E foi realmente muito pertinente esse tema que escolheu para falar, pois realmente essa questão da transitividade das pessoas e das coisas em nossas vidas é algo sempre muito tocante para a gente, uma vez que sempre tendemos a achar que as coisas são para sempre, quando na verdade elas mudam sempre, sempre são transitivas.

A nossa própria tradição ocidental proveniente das idéias platônicas sempre nos motivam a dar valor a aquilo que supostamente é eterno e a esquecer e não dar valor ao que é factual, tal como já tratava platão ao dizer que o homem e tudo mais na terra não passava da sombra do conceito, que era perfeito, eterno e invariável.

Mas a grande verdade de tudo é que as coisas mudam a todo o tempo, em nossas vidas nada realmente é para sempre, as pessoas sempre se vão, de um jeito ou de outro, e nós também nos vamos. Como dizia o nosso velho Heráclito de Éfeso: Ninguém pode banhar-se duas vezes no mesmo rio, porque o rio permanece, mas a água já não é a mesma.

Bom, sem mais continuar tagarelando em sua cabeça, eu vos digo que seu texto me inspirou muito, e acho que vou até escrever poesia sobre esse assunto (vamos ver o que sai), e adorei tu teres citado Renato Russo, pois escuto sempre, e cresci escutando.

E só mais uma coisa, deixei uma brincadeira em meu blog para ti, dê uma olhada lá se puder.

Parabéns pelo blog e pelo texto.

Cordialmente,
Átila Siqueira.

Átila Siqueira. disse...

Oi, olha eu aqui de novo...

Bom, eu quero primeiramente agradecer ao gentil comentário que deixaste em meu blog, e fico feliz que vai participar da brincadeira da área de trabalho.

Bom, eu quero também te agradecer por ter colocado em seu blog um link para o meu, pois eu só o vi agora, e fiquei muito contente com isso.

Quanto ao msn, eu sinto muito mas eu não tenho, mas vou ver se arranjo um e te adiciono, mas também eu tenho um problema quanto a isso, pois eu só entro na internet de madrugada, uma vez que minha conexão é discada. Mas de qualquer jeito eu vou anotar seu endereço e quando eu puder te procuro no msn, e te agradeço muito por me dar esse endereço, foi muito gentil.

E mais uma vez parabéns pela última postagem: Átila Siqueira.

Bianca Feijó disse...

passei aqui para ver se tinha novidade... ;)