terça-feira, 16 de outubro de 2007

Pela primeira vez a ultima chance

- Quando você virá ao Rio? – Disse Diego com caracteres carregados de emoção.
- Não sei, pode demorar, ainda preciso arrumar um trabalho, ganhar dinheiro, e enfim ir ao Rio te visitar. – Respondeu Bianca com vontade de sair correndo na mesma hora.
- Quando você vier, vou poder te dar um beijo na boca? – Brincou ele.
- Vai, paixão... – Concordou ela.
- Vem para cá no verão então.
- Combinado, após o reveillon, eu faço as malas com destino à cidade maravilhosa. Você estará me esperando?
- Claro, sua boba, é só me ligar que te buscarei onde você estiver.
Bianca já sabia como seria o fim desta relação: iriam passar um final de semana esplendoroso, depois o desejo teria que ser apagado por morarem em cidades diferentes, já que ela não tem a mínima dedicação para manter um relacionamento a distância, passaria então a ignorá-lo, afirmando friamente que a culpa do fim era dele, fazendo-se de vitima como só ela consegue. Mas não poderia deixar de viver esta aventura, nem que fosse para contar para as amigas. Bobagem, ela sabia que apaixonar-se-ia, alias, que já estava apaixonada.
Diego era um rapaz de classe média na terra da garota de Ipanema, trabalhava com seu pai, no auge de seus vinte e dois anos; era lindo, moreno, magro, com traços marcantes, tinha olhos cor de chocolate e dono de uma boca enlouquecedora e um sorriso encantador; usava calças e camisetas largas, estilo hip-hop, mas que traziam um toque de originalidade à sua personalidade forte e delicada, fazendo-o ser um homem maduro e um garoto inocente ao mesmo tempo. Ela tinha o perfume dele gravado na memória, como não havia gravado nada antes, era uma fragrância com notas florais e sândalo que expressavam masculinidade e polidez; era alegre, querido, tinha um papo envolvente, tanto que na primeira vez que se viram já aconteceu uma atração mutua e sintonia total. Esta vinda dela par ao Rio era a chance que tinham de viver o desejo que estava guardado há meses, pois o primeiro encontro fora rápido e significativo no aeroporto de Congonhas, em que trocaram olhares, telefones e “e-mails”.
Bianca era uma mulher decidida, morava no litoral de São Paulo e cursava a universidade contando vinte primaveras. Era linda, atraente e chamava a atenção por onde passava. Fina, doce e meiga como um cristal. Não era loira, nem morena, o tom de suas madeixas era castanho-claro-natural, na altura dos ombros, que davam ar de liberdade à sua face jovial, este ousadia que ela tinha grafado em seu pé direito numa tatuagem de borboletas coloridas de vários tamanhos, traduzindo a forma como ela enxergava a vida, anseio por liberdade que logo seria perdida nos braços de alguém. Seus olhos eram cor de mel, sua pele era clara e macia como uma pétala de rosa branca, o nariz e a boca eram delicados e harmoniosos com o rosto. Possuía um corpo esguio, com curvas acentuadas, usava roupas justas que acentuavam sua silhueta tipicamente brasileira. Ele carregava consigo o olhar dela, olhar profundo, poético, e tão envolvente que ele conseguia fechar os olhos e sentir a presença de sua musa.
A distância era curta, ela iria de ônibus porque compensava financeiramente. A semana que antecedera o passeio, Bianca não fizera outra coisa a não ser planejar cada detalhe e arrumar a bagagem. E após examinar tudo mil vezes, embarcou na peripécia que valeria a pena pelo resto da vida.
Ele estava a espera dela com o coração pulsando na boca, da ligação para buscá-la quando chegasse, a ansiedade já o tinha ao invés do contrário. Além de já ter fumado uma carteira toda de cigarro, logo ele, que fumava tão pouco. As horas corriam, mas a impressão era de que o relógio estivesse parado. Dentro da condução, ela também estava ansiosa e inquieta, mas o conforto é que a cada quilômetro ela estava mais perto do encontro com Diego. Mas conforme os minutos iam passando, ela ia sendo tomada por uma preocupação fora do normal. “Mas será possível? Agora que estou na metade do caminho não posso amarelar”, refletia Bianca. Porém não era apenas isso, ela não imaginava o que estava por acontecer. Pensamentos passeavam enquanto um filme de sua vida passava em sua mente, neste momento, pensou em sua família, em seus amigos, em tudo o que fez e deixou de fazer, em sua faculdade, em seus sonhos não realizados, e por fim pensou em Diego, vivenciou cada minuto que gastou com ele, desde a primeira vez até as conversas por telefone e internet. Teve uma imensa saudade de tudo, de todos, de Diego. Ele também foi tomado pela mesma sensação preocupante, contudo ele não entendia o motivo desta agonia.
Ouviu-se barulhos e gritos, um deles era de Bianca, o ônibus que ela embarcara descontrolou-se e sofreu um acidente, caindo serra a baixo, foi perto do limite de município do Rio de Janeiro. Curiosos paravam para ver o que tinha ocorrido, acionaram a Policia e os Bombeiros, que no resgate constataram muitas mortes, uma vez que o capotamento tinha sido destruidor. Levaram os mortos para o I.M.L. e os feridos para a Santa Casa de Misericórdia da cidade que já não era tão maravilhosa assim.
Enquanto isso Diego divagava em seus pensamentos, imaginando que Bianca desistira da viagem, desistira dele. Criando falsas afirmações a respeito da situação. Discorreu sobre a importância que ela tinha, e o quanto estava feliz porque iria tê-la junto de si, mas a agonia tomava conta de seus sentimentos, já que ela não atendia o celular, e deveria ter chegado há duas horas. Ele andava de um lado para o outro da sala clara, composta por artigos de antiguidade, ela iria adorar este cômodo aconchegante que mais parecia dela do que dele. A angustia só tendia a aumentar, e não a acabar. Ligou a televisão para distrair quando se deparou com a noticia do acidente que Bianca acabara de sofrer, e a pior das constatações, ela estava dentre as pessoas que faleceram.
A angustia deu lugar ao desespero, ele não sabia o que pensar, nem como agir, não conseguia acreditar que isto estava ocorrendo com os dois. Ela era seu amor maior, o desejo guardado, a paixão não vivida. Não conseguindo pensar em mais nada, seguiu para o I.M.L. Ao chegar e identificar-se, deram-lhe um pacote com seu nome que estava no colo de Bianca. Após ver a amada pela segunda e ultima vez, despediu-se com um “até breve” e voltou para casa. Sentado na sala que seria dela, abriu o presente: era o mp3 de Bianca, com todas as musicas de rock nacional que ela gostava, que agora eram só suas e de mais ninguém, e uma foto, uma montagem que ela fizera dos dois, ela estava linda, sorridente, cabelos ao vento, tal como a liberdade que ela sempre lutou, e ele estava pensativo, debruçado na janela, todavia pareciam estar no mesmo ambiente; e uma dedicatória no verso: “Não importa o que aconteça, te amarei para sempre”.
No fundo, ela sempre pressentiu o que aconteceria.
PS: Personagem ficticio baseado no meu amigo carioca Diego, e a outra é uma personagem criada mesmo. O conto é todo ficticio.

7 comentários:

Unknown disse...

Muuito legal seu conto yarinha, está de parabéns, me transportei pra história,rssrr
mil beijos

Cin disse...

Vim agradecer a visita, os parabéns e conhecer seu blog.
Mto bom por sinal, adorei o conto.
Bjinhos!

. fina flor . disse...

nossa, que trágico, rs*.... ainda bem que é ficção.

beijos e bom fds, querida

MM.

Samantha Abreu disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tyler Bazz disse...

Caralho... surpreendente!..

o/

Bianca Feijó disse...

Ufá até que fim consegui vir até aqui para ler...
Nossa Yara,estou vivendo esta história na vida real,só que na minha história é ele que virá...como me identifiquei quando escrevara que ela sabia que seria um romance breve pela distância,mas que mesmo assim quer vivê-lo...só espero que nada tragico aconteça na minha história da vida real!
Adorei mesmo,pois o inicio é o que estou vivendo.
Lindo!
Beijos!

Unknown disse...

Hi !!! sou suspeito para falar dessa menina q eu amo e admiro muito!!!!!!!! mas suspeitice a
parte não posso deixar de dizer q o conto ficou ótimo, ótimo de verdade ... melancólico, doloroso e
desconsertante, porem ótimo!!!